{pingos & pigmentos} é uma intervenção plástica na paisagem através de uma grande quantidade de guarda-chuvas de cor vibrante. A cor vibrante dos guarda-chuvas colore a paisagem com pingos isolados, acúmulo e saturação, assim como a dissolução dos pigmentos.
A intervenção propõe uma alteração do regime de percepção visual como possibilidade de construção de presença, temporalidade, e experiências de encontro, convivência e pertencimento ao espaço urbano.
Os guarda-chuvas, todos cor de rosa fúcsia, funcionam como artifício operando relações de visibilidade e invisibilidade em relação ao espaço urbano e à população, provocando o olhar daqueles que se encontram nos locais de intervenção, sejam moradores, trabalhadores ou transeuntes. O rosa destaca e contrasta a cidade, revelando-a como uma espécie de marca-texto urbano.
A proposta é deslocar o olhar das pessoas, geralmente introspectivo e direcionado para afazeres e compromissos pessoais, de modo a voltar-se para a própria cidade e para si mesmo enquanto sujeito da cidade. Multiplicam-se diferentes pontos de vista e perspectivas, de forma que o ato de ver desdobra-se também no ato de ser visto e, por sua vez, de fazer parte. O indivíduo se percebe singular e, a um só tempo, coletivo, parte da multidão, parte da cidade.
{pingos & pigmentos} constrói assim uma qualidade da presença para os performers, que vivem uma dilatação da percepção, do sentido de composição e da conectividade com a multidão, assim como para o público, que na interrupção do cotidiano vivencia uma dilatação do tempo própria ao ato de contemplação. Ocorre uma identificação estética com o objeto, sua simplicidade, forma e cor. O deslocamento do ponto de vista do público é tal que os próprios espectadores da intervenção tensionam as fronteiras da obra, passando também a integra-la com seu olhar, seu comentários, seu corpo e com o objeto, que passa de mão em mão contagiando a cidade. Isto é, ao mesmo tempo em que o performer da intervenção também é público, pois parte de sua ação está comprometida com a observação da cidade, também o público com frequência passa a posição de performer, não apenas compondo com o trabalho mas tomando-o para si através do guarda-chuva.
A intervenção {pingos & pigmentos} foi criada em 2010 no âmbito do projeto Poéticas Performáticas de Multidão, do Coletivo Construções Compartilhadas (BA). Vencedor do Prêmio Artes Cênicas na Rua 2009 na FUNARTE, o projeto gerou 06 intervenções urbanas à ocasião. Sua realização ocorre de forma articulada à oficina Poéticas de Multidão: {pingos & pigmentos}, para a qual são convocados interessados na proposta, sem pré-requisitos. Ao longo dos 02 dias de oficina são trabalhados os conteúdos da própria intervenção – percepção composição e conectividade -, assim como discutidas questões sobre a cidade e suas ocupações. Ao final de 08h de trabalho, os participantes da oficina tornam-se os próprios performers da intervenção. A relação performer-público, anteriormente mencionada, de fato é bem mais complexa, em um trânsito que envolve as posições artista – professor – aluno – performer – publico.
Sinopse
Pontilhar, saturar e dissolver. Em uma brecha no meio do dia, guarda-chuvas de cor vibrante corrompem a paisagem. {pingos & pigmentos} é uma intervenção plástica através do acúmulo gradativo de guarda-chuvas de cor rosa fúcsia, seguido de sua dissolução. Pontilhismos que invadem a retina, indisciplinam o olhar e provocam o cotidiano em seu matiz habitual. A cidade irrompe-se poética, onírica, estranha e, como ela, seus habitantes.
Ficha técnica
Concepção, coordenação e realização: Rita Aquino
Colaboração artística: Alexandre Molina, Eduardo Rosa, Carlos Santana, Lenine Guevara, Liria Morais e Rafael Rebouças.
Performers: Participantes da oficina
Fotos: Paulo Lima
{pingos&pigmentos} é uma das seis obras que compõem o projeto Poéticas Performáticas de Multidão, do Coletivo Construções Compartilhadas (BA), contemplado com o Prêmio FUNARTE Artes Cênicas de Rua 2009, cujo argumento foi concebido por Eduardo Rosa e Rita Aquino.